quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Graciliano Ramos.

Graciliano Ramos

27-10-1892, Quebrângulo (AL)
20-3-1953, Rio de Janeiro (RJ)

Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo (AL) em outubro de 1892. Os estudos secundários foram realizados em Maceió. Em 1914, sem ter cursado qualquer faculdade, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como revisor em alguns jornais. Regressou ao seu Estado natal, fixando-se em Palmeira dos Índios, como comerciante. Em 1920, ficou viúvo e responsável por quatro filhos menores. Nessa época, trabalhava como jornalista e participava da vida política, chegando a prefeito da cidade em 1928, cargo a que renunciou em 1930. Em 1933, quando publicou seu primeiro livro – Caetés - , estava em Maceió como diretor da Imprensa Oficial do Estado. Na capital conheceu José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Jorge Amado. Graciliano dirigia também uma entidade: a Instrução Pública de Alagoas.

Foi preso em março de 1936, acusado de ligação com o Partido Comunista. Prisão sem processo, mas que não evitou a deportação do acusado, num porão de navio, para o Rio, onde permaneceu encarcerado. Foi demitido do cargo de Diretor da Instrução Pública e levado a diversos presídios, até Janeiro de 1937, quando foi libertado. Dessa experiência resultou a obra Memórias do cárcere, publicada em 1953.
Em 1945, com o fim do Estado Novo, filiou-se ao Partido Comunista. Sete anos mais tarde, viajou pela antiga União Soviética e parte da Europa. Dessas andanças resultou o livro Viagem. O regresso ao Brasil coincidiu com o início de sua doença. No ano seguinte, 1953, morreu no Rio de Janeiro. Seu nome já era consagrado como o de maior romancista brasileiro depois de Machado de Assis.
A obra de Graciliano Ramos é a melhor ficção produzida na segunda fase modernista e um dos pontos altos de nossa literatura, em todos os tempos. O que há de comum entre todas as obras de Graciliano? Claro que cada livro é um livro, mas em todo grande escritor há, ligando uma obra a outra, uma unidade. Essa unidade resulta da maneira como o escritor entende a vida e a arte.
Quanto à concepção de arte, a crítica evidencia no estilo de Graciliano Ramos a ausência de sentimentalismo e a capacidade de síntese, ou seja, a habilidade de dizer o essencial em poucas palavras. A linguagem rigorosa, enxuta, resulta de um trabalho consciente.
De fato, o autor escrevia pouco e lentamente, submetendo seus textos a várias revisões. Conta-se que jamais se sentia inteiramente satisfeito com o resultado final.
Que finalidade tinha para esse escritor a arte? Segundo o crítico Antonio Candido, "no âmago de sua arte há um desejo intenso de testemunhar sobre o homem...". Não apenas sobre o homem do seu tempo e de seu meio, mas sobre as angústias e dramas do homem de sempre.
Caetés, São Bernardo e Angústia ilustram o mergulho do escritor na alma humana, com a finalidade de descobrir o que está debaixo da superficialidade da aparência. Escritos em primeira pessoa, são narrativas que se prendem á análise do mundo interior, mas sem desprezar o contexto sociopolítico em que vive cada personagem. Pelo contrário, é do contraste entre o eu mais íntimo e o ser social de cada um que decorrem os conflitos.
Em São Bernardo o desequilíbrio entre as duas "camadas" do personagem-narrador - Paulo Honório - manifesta-se na consciência de que o trabalho o levara a agir da maneira que agia: despótica, tiranicamente, a ponto de induzir a mulher, Madalena, ao suicídio. Aos poucos, enquanto escreve sua história, Paulo Honório conscientiza-se de que seu fracasso como ser humano foi conseqüência de ter submetido tudo - inclusive suas relações humanas - a um processo de coisificação em que o mais importante era o ter, não o ser.
Nas narrativas feitas em terceira pessoa - Vidas secas (romance) e Insônia (contos) - prevalece a visão da realidade social sobre a análise psicológica das personagens. Vidas secas insere-se na linha regionalista, uma vez que nele avulta o drama social e geográfico da região Nordeste. Se nos romances em primeira pessoa interessava mais o homem, aqui interessa o homem vinculado ao seu meio natural - o sertão.
As narrativas autobiográficas, Infância e Memórias do cárcere, naturalmente estão presas à subjetividade do autor; mas não se esgotam apenas no registro de seu drama pessoal, pois ultrapassam o individual para atingir o social e o universal. Assim, Memórias do cárcere não é o relato puro e simples do sofrimento e humilhações do homem Graciliano Ramos; é a análise da prepotência que marcou a ditadura Vargas e que, em última análise, marca qualquer ditadura.
                                                                                
Obras

Romances: Caetés (1933); São Bernardo (1934); Angústia (1 93 6); Vidas secas (1938). Escreveu ainda parte do romance Brandão entre o mar e o amor, em parceria com Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Anibal Machado.
Conto: Insônia (1947).
Memórias: Infância (1945); Memórias do cárcere (1953); Viagem (1954); Linhas tortas (1962).
Crônica : Viventes das Alagoas (1962).
Literatura infanto-juvenil: A terra dos meninos pelados (1937); Histórias de Alexandre (1944); Histórias incompletas (1946).
Graciliano Ramos também dominava o inglês e o francês. Realizou algumas traduções: Memórias de um Negro de Booker T. Washington, (1940);   A Peste de Albert Camus, (1951)

Frases de Graciliano Ramos

‘’Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano.’’  ( Trecho do livro 'Em Liberdade' )
‘’Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras,não deixar vestígio de idéias obliteradas.’’  
"Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões."
‘’Escolher marido por dinheiro. Que miséria! Não há pior espécie de prostituição.’’  (Trecho do livro ’Angústia’)
‘’Dizes que brevemente serás a metade de minha alma. A metade? Brevemente? Não: já agora és, não a metade, mas toda. Dou-te a minha alma inteira, deixe-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e adorar-te.’’  (‘Cartas de amor a Heloísa’)
‘’Necessitando pensar, pensei que é esquisito este costume de viverem os machos apartados das fêmeas. Quando se entendem, quase sempre são levados por motivos que se referem ao sexo. Vem daí talvez a malícia excessiva que há em torno de coisas feitas inocentemente. Dirijo-me a uma senhora, e ela se encolhe e se arrepia toda.
Se não se encolhe nem se arrepia, um sujeito que está de fora jura que há safadeza no caso.’’

Análise da Obra - Vidas Secas

Tipos de Narrador

No romance "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, encontramos a narração em terceira pessoa, com narrador onisciente. Podemos encontrar muitas vezes os discursos indiretos livres. É o próprio narrador que revela o interior dos personagens através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens.
"... Aí, a coleira diminuiu e Fabiano teve pena". (Cap. 01 – Mudança)
Tempo da Narrativa

O tempo de narrativa medeia duas secas. A primeira que traz a família para a fazenda e a segunda que a leva para o Sul. Mesmo possuindo algumas referências cronológicas na obra, o tempo é psicológico e circular.
"... Sinhá Vitória é saudosista. Lembra-se de acontecimentos antigos, até ser despertada pelo grito da ave e ter a idéia de transformá-la em alimento". (Cap. 01 – Mudança)
Espaço da Narrativa

O espaço é físico, refere-se ao sertão nordestino, descrito com precisão pelo autor.
"... na lagoa seca, torrada, coberta de caatingas e capões de mato". (Cap. 11 – O soldado Amarelo)
Personagens:

Personagem Protagonista
Fabiano – Nordestino pobre, marido de Sinhá Vitória, pai de dois filhos. Procura trabalho desesperadamente, bebe muito e perde dinheiro no jogo. Possui grandes dificuldades lingüísticas, mas é consciente delas. Homem bruto com dificuldade de se expressar, possui atitudes selvagens. Por não saber se expressar entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor.
Personagem Antagonista
Soldado Amarelo – Corrupto, oportunista e medroso, o Soldado Amarelo é símbolo de repressão e do autoritarismo pelo qual é comandado (ditadura Vargas), porém não é forte sozinho; sem as ordens da ditadura, é fraco e acovarda-se diante de Fabiano.
Personagens Secundários
Sinhá Vitória – Mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora, sonhadora e inconformada com a miséria em que vive, trabalha muito. É a mais inteligente de todos controlando assim as contas e os sonhos de todos.
Filho mais novo e Filho mais velho – São crianças pobres e sofridas que não tem noção da miséria em que vivem. O mais novo vê no pai um ídolo, sonha sobressair-se realizando algo, enquanto o mais velho é curioso, querendo saber o significado da palavra inferno, desvendar a vida e ter amigos.
O dono da fazenda – Contrata Fabiano para trabalhar em sua fazenda, desonesto, explorava seus empregados.
O fiscal da prefeitura – Intolerante e explorador.
Baleia – Cadela da família, tratada como gente, humanizada em vários momentos e muito querida das crianças.
Tomás de Bolandeira - Aparece somente por meio de evocações, é tido como referência por Fabiano e Sinhá Vitória.
Seu Inácio – Dono do bar.
Enredo

A história em Vidas Secas começa com a fuga de uma família nordestina fugindo da seca do sertão. Fabiano, o pai da família, é um vaqueiro com dificuldade de se expressar. Não tem aspirações nem esperanças de vida. Sinhá Vitória é a mãe, é mais "madura" do que seu marido Fabiano, também não se conforma com sua situação miserável, e sonha com uma cama de ouro como a de Tomás de Bolandeira. Os dois filhos e a cadela Baleia acabam por concluir essa família.
O menino mais novo sonha ser como o pai, já o mais velho desejava a presença de um amigo, conformando-se assim com a presença de sua cadela Baleia, a qual portava-se não como um animal, mas sim tratada com um ente e ajudava Fabiano e sua família a suportar as péssimas condições.
Depois de muito caminhar a família chega a uma fazenda abandonada, onde acabam ficando. Após de um curto período de chuva o dono da fazenda retorna e contrata Fabiano como seu vaqueiro.
Fabiano vai a venda comprar mantimentos e lá se põem a beber. Aparece um policial que Fabiano chama de Soldado Amarelo, que o convida para jogar baralho com os outros. O jogo acontece e numa desavença com o Soldado Amarelo, Fabiano é preso maltratado e humilhado, aumentando assim sua insatisfação com o mundo e com sua própria condição de homem selvagem do campo.
Fabiano é solto e continuando assim sua vida na fazenda. Sinhá Vitória desconfia que o patrão de Fabiano estaria roubando nas contas do salário do marido. A família participa da festa de Natal da cidade onde se sentem humilhados por diversos "patrões" e "Soldados Amarelos". Baleia fica doente e Fabiano a sacrifica.
Não satisfeito e sentindo-se prejudicado com o patrão, Fabiano resolve conversar com seu patrão, este que ameaça despejar Fabiano da fazenda. Fabiano tenta esquecer o assunto e acaba ficando muito indignado. Na voltada venda Fabiano encontra o Soldado Amarelo perdido no mato. Fabiano pensa em matar o Soldado Amarelo, porém sentindo-se fraco e impossibilitado, acaba ajudando o soldado a voltar para a cidade.
A seca atinge a fazenda e faz com que toda a família fuja novamente, só que desta vez, todos vão para o Sul, em busca da cidade grande, sem destino e sem esperança de vida.

01.


Cahetes (1ª edição)

O seu romance de estreia, “Caetés” (1933), gira em torno de um caso de adultério ocorrido numa pequena cidade do interior nordestino e não está à altura das obras subsequentes.




02.


 S. Bernardo

“São Bernardo” (1934), uma de suas obras-primas, narra a ascensão de Paulo Honório, rico proprietário da fazenda São Bernardo. Com o objectivo de ter um herdeiro Paulo Honório casa-se com Madalena, uma professora de ideias progressistas. Incapaz de entender a forma humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. O ciúme e a incompreensão de Paulo Honório levam-na ao suicídio. Com este personagem, Graciliano Ramos traça o perfil da vida e do carácter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, em que não há espaço nem para a amizade, nem para o amor. Trata-se de um romance admirável, não só pela caracterização da personagem, mas também pelo tratamento dado à problemática da “coisificação” dos indivíduos.

03.

Angústia

“Angústia”, é a história de uma só personagem, que vive a remoer a sua angústia por ter cometido um crime passional.



04.



Vidas Secas (1ª edição)

O livro “Vidas Secas” mantém uma estrutura descontinua não-linear, como que reafirmando o isolamento, a instabilidade da família de retirantes. Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia.

Formado por treze capítulos que sem nexo lógico, o enredo de “Vidas Secas” organiza-se principalmente pela proximidade, pelo primeiro: Mudanças – a chegada da família de retirantes a uma velha fazenda abandonada arruinada – e o último, Fuga – a saída da família, que diante de um novo período de seca, foge para o sul.
Além da tortura gerada pela lembrança do passado e pelo medo do futuro, o romance foca outras faces da opressão que se exerce sobre os membros da família.
A questão central do romance não está nos acontecimentos, mas nas criaturas que o povoam nas gravuras de madeira. O narrador vai revelando a sua humanidade embotada, confundida com a paisagem áspera do sertão, neste romance transcende o regionalismo e seu contexto específico – a seca do Nordeste, a opressão dos pobres, a condição animalesca em que vivem e para esculpir o ser humano e universal.



05.
 

Memórias Do Cárcere: I – Viagens (1ª edição)

Entre suas obras auto-biográficas, destaca-se “Memórias do Cárcere” (1953), depoimento sobre as condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas.



06.


                                                                   Infância

Num dos seus outros livros autobiográficos "Infância", refere-se assim a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".


Enviado por: Thainá Vezaro Parizotto e grupo.

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