quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho

 "Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples."
Biografia

Nasceu em 19/04/1886, no Recife e morreu em 13/10/68, no Rio de Janeiro. Poeta que provavelmente foi a principal figura do Modernismo brasileiro, embora tenha se recusado a participar da Semana da Arte Moderna de 1922, em São Paulo.

Bandeira foi educado no Rio e São Paulo, mas em 1903 a tuberculose forçou-o a abandonar seu sonho de ser arquiteto (o pai era engenheiro). Muitos dos seus anos seguintes ele passou viajando em busca da cura, e durante este período leu extensamente e retomou a produção de poesia (seu primeiro poema, em alexandrinos, tinha saído em 1902).

Seus primeiros livros (A cinza das horas, 1917, e Carnaval, 1919) mostram a influência tardia dos simbolistas e parnasianos, mas alguns poemas de seu livro seguinte (Ritmo dissoluto, 1924) já contemplam a sensibilidade do modernismo emergente, que tentava liberar a poesia do academicismo e da influência européia. Libertinagem (1930) mostra claramente tendências modernistas nos seus versos livres, linguagem coloquial, sintaxe pouco convencional e o uso de temas folclóricos. Seus livros seguintes (Estrela da manhã, 1936, Lira dos cinqüent'anos, 1940, Mafuá do malungo, 1948, Opus 10, 1949, e Estrela da tarde, 1960) consolidaram sua posição como um dos maiores poetas brasileiros. Apesar de sua longa vida como poeta, só começou a ter lucro material com sua produção em 1937, quando ganha o prêmio da Sociedade Felipe d'Oliveira.

Na sua poesia, Bandeira abandonou o tom retórico de seus antecessores e usou a fala coloquial para tratar de temas triviais e eventos do dia-a-dia, com objetividade e humor.

Em 1935 é nomeado pelo Ministro Capanema inspetor de ensino secundário. Ensinou literatura no Colégio Pedro II, no Rio, de 1938 a 1943 e tornou-se professor na Universidade do Brasil naquele último ano.

Bandeira também traduziu vários poemas de inúmeros autores (Goethe, Jorge Luís Borges, Heine, Cummings, Rilke, Kahlil Gibran, Baudelaire, García Lorca, Elisabeth Browning, Emily Dickinson, Verlaine, etc.). Adicionalmente traduziu várias peças de teatro e livros em prosa, entre eles Macbeth (Shakespeare), Maria Stuart (Schiller) e A Prisioneira (de Em busca do tempo perdido, de Proust, em parceria).

Colaborador em vários jornais durante toda sua vida, produziu inúmeras crônicas e crítica artística. Foi ainda antologista (Antero de Quental, Gonçalves Dias), historiador literário (Noções de História das Literaturas) e biografista.

Características da obra

A poesia de Manuel Bandeira nasce parnasiana e simbolista e, aos poucos, se distingue como "o melhor verso livre em português". O poeta transita do Parnasianismo ao Modernismo e experiências concretistas, conservando e adaptando os ritmos e forças mais regulares.

Em sua obra, o aspecto biográfico, marcado pela tragédia e tuberculose, é poderoso, constando até em obras nitidamente modernas, como Libertinagem. Há, ainda, a marca da melancolia, da paixão pela vida e das imagens brasileiras. As figuras femininas surgem envoltas em "ardente sopro amoroso", enquanto outros poemas tratam da condição humana e finita sem deixar de demonstrar o desejo de transcendência como em Momento num Café, Contrição, Maçã, A Estrela e Boi Morto.
Texto do autor
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
 
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
 
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

A morte absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.
 

Debussy
Para cá, para lá . . .
Para cá, para lá . . .
Um novelozinho de linha . . .
Para cá, para lá . . .
Para cá, para lá . . .
Oscila no ar pela mão de uma criança
(Vem e vai . . .)
Que delicadamente e quase a adormecer o balança
— Psio . . . —
Para cá, para lá . . .
Para cá e . . .
— O novelozinho caiu.

Tempo-será
A Eternidade está longe
(Menos longe que o estirão
Que existe entre o meu desejo
E a palma de minha mão).

Um dia serei feliz?
Sim, mas não há de ser já:
A Eternidade está longe,
Brinca de tempo-será.


O Habitante de Pasárgada - Manuel Bandeira
Vídeo sobre o poeta que faz parte do DVD "Encontro Marcado com o cinema de Fernando Sabino e David Neves"


Fontes: passeiweb.com
revista.agulha.nom.br

Luana e seu grupo

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